domingo, 11 de dezembro de 2011

Rio: juíza reabilita presos que ela própria condenou



Deixar o passado para trás e usar o sonho de infância para reconstruir vidas de presidiários. Criado a partir da frustração de uma juíza criminal, o projeto Grão surgiu de forma tímida, mas em seis anos já mudou o destino de muita gente. Hoje, o movimento comandado por Thelma Fraga, que atuou dez anos como titular da 1ª Vara Criminal de Jacarepaguá (zona oeste do Rio), traça um novo caminho para 113 homens e mulheres (19 dos quais condenados pela própria magistrada) que um dia viram o crime como solução mais prática.


- Tudo começou porque eu estava frustrada. Vivia nessa rotina de condenar e absolver, mas não chegava a lugar nenhum. Eu via que o entorno estava todo prejudicado, que tudo estava desequilibrado. Então, percebi que tinha de fazer algo para mudar.

Antes mesmo de colocar os planos em prática, Thelma, que pediu transferência para a vara cível especial em 2010, tinha a certeza de que o melhor a fazer era atuar de forma individual, adequando cada detento à trajetória mais próxima de seu perfil.

- A gente tinha de focar no sonho, trabalhar a partir de um sonho que a pessoa tivesse desde criança. A partir disso, começamos a projetar a reinserção social. Ele [detento] diz o que se vê fazendo, a profissão que quer. Com isso, a gente sabe onde pode encaixar cada um.

O primeiro passo para transformar em realidade o que havia sido projetado não foi fácil. Antes de entrar no presídio Muniz Sodré, em Bangu (zona oeste), era preciso ganhar a confiança dos detentos. Como estratégia, a juíza decidiu começar por alguém que havia condenado. O escolhido foi Leonardo Batista, o Léo, de 35 anos, preso por comercializar armas para a maior facção criminosa do Rio.

- Primeiro, ele [Léo] viu com desconfiança, mas depois resolveu aceitar, desde que alguns de seus parceiros também participassem. E o projeto piloto começou assim, com sete pessoas - seis homens e uma mulher.

Ao sair da prisão, Léo se viu sem chão. A história, porém, começou a mudar quando ele encontrou a juíza que o havia condenado anos antes. A parceria fez o projeto de reciclagem de lixo, atividade que aprendeu na cadeia, ir para frente. Em julho passado, o ex-detento foi eleito presidente da Febracon (Federação das Cooperativas de Catadores de Lixo do Rio de Janeiro).

- No crime, você pensa no ter... Ter carro, cordão, mulheres e muitas outras coisas. Com o projeto Grão, eu aprendi a ser. Coloquei para fora o lado empresarial que sempre tive e fiz as coisas darem certo. Tanto que cheguei ao patamar que cheguei. Mudou minha vida.



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