sábado, 14 de janeiro de 2012

Falta de mão de obra faz empresas contratarem aposentados



Engenheiros encabeçam lista de contratações; na OGX, de Eike Batista, 20% dos profissionais contratados são aposentados

Imagine a sua aposentadoria. Praia, dia ensolarado, uma sombra relaxante e água fresca. Agora, troque tudo isso por telefonemas, relatórios, reuniões intermináveis e o corre-corre do dia-a-dia. Você aceitaria? Muitos sim. Com a necessidade cada vez maior de mão de obra especializada - e, acima de tudo, experiente – é crescente a busca de empresas por profissionais aposentados em seu quadro de funcionários. 
Um levantamento elaborado pela Hays, empresa especializada em recrutamento para média e alta gerência, mostrou que 20% das empresas brasileiras contratam profissionais já aposentados para voltarem ao mercado de trabalho. Dessas contratações, pelo menos metade é por conta da falta de mão de obra especializada, principalmente.

“O atual nível de investimentos em projetos, principalmente em infraestrutura, deve mostrar uma tendências cada vez maior de executivos voltando para o mercado de trabalho”, diz Alexia Franco, diretora da Hays. “É exigido conhecimento em condução de projetos, que, por mais que o profissional seja bem formado tecnicamente, somente a experiência pode trazer.” Segundo Alexia, cerca de 80% da demanda das empresas é por profissionais formados em Engenharia.

Foi justamente pela experiência que o engenheiro agrônomo aposentado Luiz Antonio Barreto de Castro, 72 anos, jamais deixou de ser demandado no mercado de trabalho. Aposentado há 17 anos, ele se manteve trabalhando em cargo público até 2010, quando deixou o cargo de Secretário de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia. Mas engana-se quem pensa que ele, enfim, “pendurou as chuteiras”. Castro aceitou o convite para ser diretor da União Química, após uma breve passagem pelo Instituto Brasileiro de Algodão.

“Um trabalhador de 70 anos está completamente ativo”, diz Castro. “Ele não trabalha se não tiver motivação, entusiasmo e projetos. Se tiver essas coisas, provavelmente vai ter propostas de qualquer setor, seja público ou privado”, completa.

Propostas não pararam de chegar ao contador Valter Mattos Lourenço, 60 anos. Ele bem que tentou se aposentar definitivamente em 2009 – dez anos depois de ter se aposentado no papel. Mas as férias definitivas duraram pouco. Cinco meses mais tarde, ele já estava novamente no mercado de trabalho, prestando consultoria a varias empresas. “Fiquei em casa por cinco meses, mas já estava angustiado. Ficar parado é terrível”, diz.

E é justamente pela necessidade de estar na ativa que os aposentados têm voltado ao mercado de trabalho, segundo Alexia Franco, da Hays. “Não é somente o salário que importa. Nesta etapa de vida, o profissional está mais preocupado com o projeto, em se sentir importante ainda”, afirma. “São fatores mais emocionais que racionais.”

No comando
De acordo com o estudo da Hays, 72% dos aposentados são contratados para cargos técnicos. Os postos de diretoria são responsáveis por 33% das vagas, enquanto gerência, conselho e presidência respondem por 28%, 17% e 6% das contratações, respectivamente.

Entre as grandes empresas, a procura por profissionais com mais gabarito é comum. Segundo Paulo Mendonça, Diretor Geral e de Exploração da OGX, de Eike Batista, 20% do quadro de 330 colaboradores diretos da companhia é formado por profissionais aposentados.

“O principal fator que levou à contratação desses profissionais foi a larga experiência no setor de óleo e gás e o vasto conhecimento das bacias sedimentares brasileiras”, diz o executivo. “Alguns possuem mais de 30 anos de atuação na área, tendo participado das principais descobertas e projetos de produção já realizados no Brasil.”

Alexia Franco ressalta que o mix entre experiência e juventude já se mostrou bem-sucedido nas empresas. “Esse equilíbrio na estrutura de colaboradores é muito saudável para as companhias”, afirma.

“Um executivo mais vivido consegue antecipar problemas que podem acontecer nos projetos, e isso gera ganhos para a empresa”, completa a especialista.

Condições especiais
Além do salário diferenciado, que não deixa de ser um atrativo para os aposentados, as empresas que recrutam esses profissionais tendem a oferecer condições especiais de trabalho, segundo a diretora da Hays. “Muitos desses executivos têm uma necessidade diferente da geração Y ou até da gerência sênior.”

Entre os diferenciais podem estar jornada de trabalho menor, acomodações especiais e horários flexíveis. “É um profissional que não vai passar 14 horas do dia trabalhando”, diz Alexia. “As empresas terão de desenvolver um modelo de trabalho diferenciado.”

Atualmente, a OGX não conta com um programa especial para os aposentados. Mas as coisas podem mudar. “Ainda houve nenhuma adaptação específica, mas isto poderá vir a ser realizado futuramente”, diz Paulo Mendonça.

Enquanto as empresas se adaptam, os profissionais aposentados adiam os planos de deixar o mercado de trabalho. “Quando o sujeito pára de trabalhar, começa a fazer besteira”, diz Luiz Antonio Barreto de Castro.

Mas o sonho da aposentadoria não está descartado. “A minha ideia é parar e descansar”, afirma Valter Mattos Lourenço. Só resta saber quando.

Crédito:
IG Economia



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