sábado, 12 de maio de 2012

Apesar de ausências ilustres, Brasil e ONU acreditam em Rio+20 histórica

Em meio à ausência de alguns líderes globais ilustres e de entraves na negociação, a ONU e o governo brasileiro ainda apostam no potencial da Rio+20 de ser “a maior conferência climática da história das Nações Unidas”.


Ambientalistas, porém, têm expectativas divergentes quanto à força das decisões que serão tomadas no evento, marcado para 13 a 22 de junho, no Rio de Janeiro.

Temores sobre o esvaziamento da Rio+20 vieram à tona, nesta semana, quando uma comitiva de deputados do Parlamento Europeu cancelou sua ida ao Rio, criticando os altos preços dos hotéis na cidade. O mesmo motivo já havia feito com que as delegações europeias que vão à conferência encolhessem em média 30%.

As embaixadas da Grã-Bretanha e da Alemanha também afirmaram à agência France Presse que os premiês David Cameron e Angela Merkel não deverão comparecer à Rio+20. Eles serão representados, respectivamente, pelo vice-premiê britânico Nick Clegg e pelos ministros alemães de Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Até agora, não há uma confirmação oficial quanto à ida de Barack Obama, mas é improvável que ele compareça, por estar focado na campanha pela reeleição.

Em contrapartida, confirmaram a presença, entre outros, os líderes dos Brics e de países sul-americanos e nomes como François Hollande (presidente eleito da França) e José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia.

Números animadores
- Até agora, os números são animadores – disse à BBC Brasil Giancarlo Summa, vice-porta-voz da ONU para a Rio+20. “Temos a confirmação de delegações de 183 países, sendo 135 delas lideradas por chefes de Estado ou de governo ou seus vices.”

Um público total de 50 mil pessoas é esperado no evento, entre políticos, membros de ONGs e da sociedade civil e empresários.
Com isso, diz Summa, “temos condições de ser a maior conferência da história da ONU”.

Em comparação, a Eco-92, principal antecessora da Rio+20, teve a presença de 108 líderes, segundo a Folha de S. Paulo.

A Rio+20 tem como missão definir os rumos do desenvolvimento sustentável nas próximas décadas – em temas como segurança alimentar, economia verde, acesso à água, uso de energia – e dar continuidade à agenda ambiental iniciada na Eco-92, há 20 anos.

Do lado do governo brasileiro, a assessoria do Itamaraty afirma que “não há nenhum medo de esvaziamento” e atribui as ausências à conjuntura interna de alguns países – seja por causa de eleições, crise econômica ou questões políticas.

Segundo a assessoria, essas ausências não afetarão o poder decisório da cúpula, já que a maioria dos países mandará “enviados de altíssimo nível”.
O Itamaraty diz também que reservou 5 mil quartos de hotéis no Rio e em cidades próximas, para hospedar as delegações estrangeiras (quartos de chefes de Estado e seus seguranças serão custeados pelo Brasil, como país-anfitrião). Mas “controlar o preço dos hotéis foge do escopo, é uma questão de oferta e demanda”.

Documento final
Ao mesmo tempo, outro desafio da Rio+20 é produzir um documento final com metas concretas e compromissos dos países com o desenvolvimento sustentável.

Comunicado da ONU na segunda-feira anunciou mais cinco dias de negociação prévios à cúpula, em Nova York, para que delegações internacionais “superem suas diferenças”.

O mesmo comunicado cita a “decepção e a frustração com a falta de progresso” nas negociações.

Isso porque muitos países industrializados relutam em assumir compromissos em temas como cortes nas emissões de gases-estufa e uso de energia limpa. Os EUA, por exemplo, ficaram de fora do Protocolo de Kyoto, criado justamente para conter emissões.

- A negociação está correndo mais lentamente do que gostaríamos – admite Summa. “A maioria do texto (do documento da Rio+20) ainda está entre colchetes, ou seja, em debate.”

- Um documento fraco levará a um acordo mais fraco ainda – adverte o representante do Greenpeace Nilo Davila.

Papel de emergentes
Para Mario Mantovani, representante da SOS Mata Atlântica, as expectativas quanto ao evento são decepcionantes.

Citando a aprovação do Código Florestal no Congresso, ele diz que o Brasil “retrocedeu” e “não fez a lição de casa” para se gabaritar como líder ambiental global, papel que poderia encampar na Rio+20.

- A sociedade civil vai fazer seu debate na Rio+20, mas já ninguém esperava nada da conferência, com ou sem líderes ilustres – diz.

Já para Pedro Telles, da organização ambiental Vitae Civilis, a eventual ausência de líderes graúdos é “uma pena”, mas pode abrir espaço para um maior protagonismo dos países emergentes.

- Existe ceticismo quanto à Rio+20, mas não diria que será um fracasso – afirma.

Sua expectativa é de que a conferência ao menos abra caminho para a criação de um conselho internacional de defesa do meio ambiente, sob a tutela da ONU, e para a adoção de metas de desenvolvimento sustentável para a partir de 2015.

Crédito:
Correio do Brasil
12/05/2012

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