Desde a formação das grandes metrópoles, com imensas expansões no século XIX, as mídias, indiretamente, eram privadas do diálogo boca a boca, pessoa a pessoa, ponto a ponto. Não por uma característica de natureza manipuladora, mas por sua própria estrutura tecnológica.
A formação das grandes cidades fez com que os cidadãos se tornassem vizinhos de pessoas vindas de lugares longínquos. Culturas diferentes conviviam lado a lado, mas desfrutando de uma intensa solidão. Desconhecidos entre si, passavam a maior parte do tempo trabalhando. Nessa época, os jornais impressos ganharam popularidade, pois, de certo modo, faziam o papel do diálogo entre os cidadãos. Falavam das metrópoles, dos crimes, da política, do crescimento econômico e mais, auxiliando as pessoas a compreenderem o mundo ao seu redor.
O surgimento das rádios, no início do século XX, permitiu uma comunicação mais dinâmica. Narrativas, sons e músicas traziam novas emoções para os ouvintes, em uma mídia que rapidamente se popularizou, principalmente no Brasil. As pessoas podiam tricotar, pintar quadros ou se dedicar a outras atividades enquanto ouviam a programação radiofônica. Podiam até mesmo ouvir um capítulo de novela se entreolhando e desfrutando das subjetivas expressões alheias.
Anos depois, a chegada da televisão roubou para si o último aspecto sensível ainda livre: o olhar. Toda a atenção, sentidos e cérebro estavam voltados para o aparelho televisor, em total entrega e isolamento de convívio. Só levantávamos do sofá para pequenos afazeres ou rápidas trocas de palavras durante os intervalos comerciais. Trabalhávamos o dia todo e em nosso tempo livre nos prendíamos à televisão.
Na década de 1990, a internet nos trouxe: o jornal impresso, em formato virtual com as notícias em tempo real; a programação radiofônica gratuita e irrestrita a qualquer rádio do mundo, inclusive piratas ou caseiras; a programação televisiva, também irrestrita, gratuita e até mesmo livre dos intervalos comerciais. Mas não somente isso.
A rede mundial de computadores nos trouxe muitas outras possibilidades, permitindo a qualquer cidadão se tornar um produtor multimídia, um comunicador interativo e relativamente livre para falar sobre o que sentir vontade. Contudo, é provável que o elemento mais importante que a internet tenha recuperado em nossas vidas seja o diálogo ponto a ponto.
Pesquisas recentes dizem que cerca de 90% dos internautas não dormem antes de conferir seu status em mídias sociais como o Twitter, Facebook e Orkut, por exemplo. E o que essas pessoas buscam? O diálogo com amigos, conhecidos, namorados, parentes e afins. Não fossem as conversas entre as pessoas e provavelmente não teríamos visto nascer movimentos como a Primavera Árabe ou o Occupy Wall Street.
O diálogo nos dá a capacidade de se organizar, de pensar e debater o mundo ao redor, de partilhar informações, arquivos e muito mais. A internet expandiu o dialogismo para níveis nunca antes imaginados e creio eu, esta seja a maior característica da rede mundial de computadores. Hoje desfrutamos de um diálogo sem fronteiras, não linear, até certo ponto caótico, mas absolutamente enriquecedor.
Preste atenção em todas as mudanças ocorrendo ao redor do planeta e perceba o quanto isso tem a ver com a internet e o diálogo. Embora muitas empresas queiram ligar a internet principalmente ao marketing e ao branding, há quem diga que eles não funcionam, como Douglas Rushkoff. Quem sairá ganhando? Somente quem souber utilizar o dialogismo das redes. Então dialog-in.
Crédito:
Marcelo D’Amico
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